Jovens brasileiras reivindicam ‘participa??o plena e igualitária no esporte, com seguran?a e apoio’
22.07.2024
Nascida no Rio de Janeiro, a jovem Rebeca come?ou a nadar aos quatro anos de idade. No entanto, permanecer no esporte foi uma grande dificuldade.
“é uma luta diária contra o preconceito, o sexismo, a falta de patrocínio e de incentivo”, diz Rebeca, hoje com 19 anos.
Ela faz parte de um grupo de 15 mulheres jovens do Brasil e outras 30 da Argentina que concluíram recentemente um programa esportivo realizado pela ONU Mulheres e pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) em parceria com a ONG Empodera, no Brasil, e a Fundación SES, na Argentina. Sob a iniciativa UVLO (Uma Vitória Leva à Outra) Participa, elas expandiram suas habilidades de comunica??o e defesa de direitos e se reuniram com vários tomadores de decis?o de alto nível no ecossistema esportivo para levantar os principais desafios e propor estratégias para expandir o acesso de meninas e mulheres ao esporte.
A iniciativa se baseia no forte legado do programa Uma Vitória Leva à Outra (UVLO), legado da Rio 2o16 que aprimorou as habilidades de lideran?a de 2.000 meninas e mulheres jovens no Brasil e 1.200 na Argentina por meio do esporte.
Os benefícios da participa??o no esporte para meninas e mulheres s?o muitos, mas as barreiras ao acesso seguro ao esporte e às oportunidades de lideran?a persistem.
Barreiras à participa??o de meninas e mulheres no esporte
O esporte ensina valores e habilidades para a vida. Meninas que praticam esportes desenvolvem a autoestima, a confian?a, a resiliência e aprendem a trabalhar em equipe. Elas tendem a permanecer na escola por mais tempo, adiar a gravidez e conseguir empregos melhores. Oitenta por cento das mulheres CEOs da Fortune 500 praticaram esportes em seus anos de forma??o.
No entanto, aos 14 anos de idade, as meninas abandonam os esportes duas vezes mais do que os meninos devido às normas e expectativas sociais e à falta de espa?os seguros e de investimentos em programas esportivos para meninas.
“As desigualdades come?am desde a infancia”, disse Rebeca. “As meninas recebem bonecas e utensílios de cozinha e devem aprender a se dedicar ao lar e à família, enquanto os meninos recebem bolas de presente e se inscrevem em escolinhas de futebol.”
“Com o passar dos anos, percebemos que, embora nós, meninas, trabalhemos muito mais do que os meninos, n?o conseguimos nem chegar perto dos mesmos investimentos e patrocínio no esporte.”
Maria Luiza, de 18 anos, também do Rio, e aluna do UVLO Participa, concorda com Rebeca.
Ela aponta para a “falta de espa?os seguros para a prática de esportes e para o trabalho doméstico e de cuidados que ocupa uma quantidade significativa do tempo de meninas e mulheres e [como resultado] elas têm menos tempo para se dedicar ao esporte. Devido a vis?es sexistas, elas têm menos apoio e investimento para entrar ou permanecer no mundo esportivo”.
Maria também compartilhou que a discrimina??o e as atitudes sexistas às vezes s?o evidentes na maneira como os técnicos tratam seus alunos.
Como a representa??o na mídia afeta meninas e mulheres no esporte
Pela primeira vez na história, os Jogos Olímpicos de Paris 2024 ter?o um número igual de atletas homens e mulheres competindo, e há uma aten??o crescente ao esporte feminino. Cerca de 35 comentaristas mulheres foram contratadas pelo Olympic Broadcasting Services para Paris 2024, o que representa um aumento de quase 80% em compara??o com os Jogos Olímpicos de Tóquio em 2021. Os dados mostram que sete em cada 10 pessoas agora assistem a esportes femininos, mas que ele representa média de apenas 16% da cobertura da mídia esportiva desde 2022.
Ver mais mulheres jogando e uma melhor representa??o das mulheres no esporte e na mídia esportiva é importante para meninas como Rebeca e Maria e inúmeras outras.
“A representa??o na mídia nos influencia muito”, disse Rebeca. “Quando nos vemos na TV competindo nas Olimpíadas e jogando em Copas do Mundo, nos sentimos representadas e o sonho (…) de chegar lá se torna real.”
Para Maria, ver jogadoras, como a jogadora de futebol brasileira Marta – que é Embaixadora da Boa Vontade da ONU Mulheres para mulheres e meninas no esporte – lutando pela igualdade de gênero no esporte, é uma fonte de inspira??o.
Meninas e mulheres precisam e querem ver mais modelos femininos no ecossistema esportivo, inclusive em cargos de lideran?a. Elas também precisam de incentivo e apoio para permanecer no esporte.
“Minha m?e e meu professor de nata??o sempre me incentivaram”, disse Rebeca. “O apoio delas fez toda a diferen?a. Quando esse apoio n?o vem, os sentimentos de impotência muitas vezes se tornam maiores do que o próprio sonho, porque muitas vezes as meninas n?o só n?o têm incentivo, mas também s?o ativamente desencorajadas [a seguir uma carreira no esporte].”
‘Chega de barreiras e preconceitos, as meninas têm espa?os seguros e apoio para brincar’
O número de acordos de patrocínio em esportes profissionais femininos aumentou mais de 22% ano a ano, de acordo com os dados mais recentes da Sports United. Apesar desses ganhos, ainda existem grandes lacunas. As mulheres atletas continuam lutando contra menos oportunidades profissionais, uma enorme diferen?a salarial, menos patrocínios, menos tempo de transmiss?o e condi??es de jogo desiguais.
Ao longo de dois meses, as alunas brasileiras do UVLO Participa aprenderam habilidades de comunica??o e advocacy, compartilharam experiências, conheceram as leis atuais para promover a participa??o de meninas e mulheres no esporte e se reuniram com os principais tomadores de decis?o do governo e do ecossistema esportivo, incluindo representantes do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), da Secretaria Municipal de Políticas e Promo??o da Mulher do Rio (SPM-Rio), da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer (SMEL), do Ministério das Mulheres (MM) e do Ministério do Esporte (Mesp).
Eles identificaram três desafios principais: baixa representa??o de mulheres em cargos de lideran?a e gest?o esportiva, falta de espa?os seguros para meninas e mulheres no esporte e racismo.
A legisla??o esportiva do Brasil estipula que as organiza??es que recebem dinheiro da loteria esportiva devem ter 30% de mulheres em cargos de lideran?a; no entanto, apenas 2,7% dos cargos de gerência nos clubes de futebol brasileiros s?o ocupados por mulheres.
As participantes enfatizaram a importancia de criar espa?os física e emocionalmente seguros para que as meninas tenham acesso e permane?am no esporte por meio de projetos de esporte seguro nas Vilas Olímpicas e em outras instala??es públicas.
“A falta de espa?os seguros onde possamos praticar esporte, mesmo como lazer, contribui para o alto índice de sedentarismo entre as meninas no Brasil, e a [discrimina??o] racial torna isso ainda pior”, explicou Maria.
Em 2022, pelo menos 111 casos de ofensas raciais foram registrados no futebol brasileiro.
As propostas feitas pelas meninas pediram que as organiza??es esportivas criassem campanhas de conscientiza??o e educa??o para combater o racismo no esporte.
“As meninas se concentraram nesses problemas e solu??es porque sentiram que essas eram as prioridades mais urgentes com base no que vivenciaram em primeira m?o. Acontece que as propostas delas também se alinham com os Princípios do Esporte para a Gera??o Igualdade, da ONU Mulheres, que definem medidas para promover a igualdade de gênero no esporte e por meio dele”, disse Ana Carolina Querino, Representante Interina da ONU Mulheres Brasil. “é hora de finalmente quebrar o padr?o de desigualdade de gênero e exigir investimentos, oportunidades iguais, mais visibilidade para os esportes femininos e o fim do assédio e do abuso.”
Durante os Jogos Olímpicos de 2024, a ONU Mulheres reiterará seu apelo aos membros do ecossistema esportivo global para que se tornem parceiros na acelera??o do progresso para mulheres e meninas, no e por meio do esporte. Ao aderir aos princípios do Esporte para a Gera??o Igualdade, as organiza??es e os tomadores de decis?o podem nivelar o campo de jogo para meninas e mulheres em todos os lugares, cumprir a Agenda de Desenvolvimento Sustentável e realizar a vis?o da Declara??o e Plataforma de A??o de Pequim – o projeto acordado internacionalmente sobre os direitos das mulheres, que marcará seu 30o ano em 2025.